Muar ou cavalo devem marchar apoiado na embocadura?


21 de Novembro de 2014 às 15:50
Marchar apoiado na embocadura.

SEU CAVALO OU MUAR DEVE MARCHAR APOIADO NA EMBOCADURA?

* Lúcio Sérgio de Andrade

 

Mula: Rakelli do Jú

O defeito de marchar apoiado em excesso na embocadura é o mais prevalente nas provas de marcha, sendo observado em um grande numero de concorrentes, notadamente na modalidade marcha batida diagonalizada, equitados com as rédeas sob forte tensão, exercendo pressão continua no bocal. Em situações extremas a boca é vista aberta ou semi-aberta, bocal “rasgando”as comissuras labiais, em muitos animais o focinho aponta adiante (defeito de “cabeça ponteira”),

A postura correta da cabeça formar um ângulo próximo a 90 graus, com o focinho apontado ao solo. As variações da postura desejavel da cabeça são os defeitos comumente chamados de cabeça muito elevada, ponteira ou encapotada. Assim, o cavalo será conduzida de forma adiantada ou atrasada relativamente ao posicionamento do bocal, que estará fora dos pontos exatos de controle na boca, sej nas comissuras labiais, barras, lingua ou palato.

A postura correta da cabeça somente é alcançada após um treinamento prévio com foco em desenvolver, plenamente, a flexão da nuca, o que se conhece como “amaciar a nuca”, ou “ceder a nuca”. Simultaneamente, também é “amaciado o maxilar”, desenvolvida a flexão lateral do pescoço, tronco (costados, dorso, lombo, abdômem, garupa) e membros, os quais representam a base da sustentação e locomoção. Notadamente nos membros, deve ser desenvolvida a mobilidade fácil das espáduas; a articulação fácil dos boletos, joelhos e jarretes; a potência na forca de impulsão e o bom engajamento. Somente assim o cavalo estará preparado para treinamento focado em aprimmorar a qualidade da marcha. Caso contrário, além da perda do potencial para apresentar o máximo da qualidde da marcha, tambem serão desenvolvidos defeitos, principalmente aqueles inseridos no quesito estilo.

O principio da ação nos exercicios de flexionamento reside na relação sequencial entre pressionar e ceder. A pressão continua de rédeas quase invariavelmente é desconfortavel, na boca, na musculatura, articulações ósseas, tendões e/ou ligamentos. O correto é pressionar para buscar a flexão e, sendo alcançada, ceder, como forma de recompensa após a execução correta da lição do aprendizado.

O defeito de marchar apoiado em excesso na embocadura, popularmente denominado de “cavalo debruçado na embocadura”, pode ser facilmente desenvolvido em cavalos hiperativos, ou que foram adestrados em programa inadequado de treinamento, pelo qual são condicionados a marchar na maior parte do tempo em alta velocidade, transformando-se em “cavalos velocistas”. Na ânsia de manterem a marcha em velocidade alta os “velocistas” apóiam-se fortemente no bocal. O treinador, erradamente, permite, e exerce uma contra-força, insuficiente para tornar a equitação fácil, confortavel, porque o cavalo é bem mais forte. Em pouco tempo, as mãos e braços estarão doloridos. Qualquer comando de rédeas para ações variadas, mesmo as mais simples, como volteios e transições de andamentos, será dificultado.

Particularmente, considero esse defeito muito grave, ao ponto de não achar correto que o cavalo mereça o titulo de campeão de marcha, simplesmente pelo motivo óbvio do adestramento não estar condizente ao nivel que se espera de uma apresentação em exposição, que é um evento publico, no qual se mostra não somente o aprimoramento zootécnico da raça, mas tambem evolutivo do adestramento.

Em indagações feitas a alguns treinadores, nos vários cursos que ministro anualmente em diversas regiões do Brasil, a resposta que obtive: “os árbitros orientam que os cavalos devem marchar com a boca apoiada”. Ora, óbviamente que sim! Todo cavalo deve ser conduzido com algum apoio na embocadura. Mas jamais em excesso, gerando desconforto para ambos – cavalo e cavaleiro. Basta considerar a tônica da atualidade - o manejo respeitando o “bem estar equino”, para saber que é errado.

* Lúcio Sérgio de Andrade